COP 28: BNDES propõe o Arco da Restauração da Amazônia

Artigo: Paulo Artaxo*

A proposta é substituir o “Arco do Desmatamento” pelo “Arco da Restauração”

Evento no Espaço Brasil da COP 28 coordenado por Aloizio Mercadante, presidente do BNDES, lançou um novo programa do BNDES voltado para restauração ecológica em larga escala na Amazônia. A proposta é substituir o “Arco do Desmatamento” pelo “Arco da Restauração”. A base da proposta é que restaurar florestas tropicais é o meio mais fácil, rápido e barato de remoção de CO2 da atmosfera. Remover CO2 já lançado na atmosfera é condição essencial para limitar o aquecimento a 2ºC. A proposta coloca que é fundamental a mobilização internacional de recursos para criar um cinturão de restauro e de proteção da Amazônia e, na verdade, de todas as florestas tropicais. A proposta envolve restaurar 24 milhões de hectares na Amazônia e tem 2 fases: até 2030, a ideia é investir US$10 bilhões em áreas prioritárias, começando por unidades de conservação, terras indígenas e áreas de quilombolas, e áreas públicas não destinadas. No período de 2030 a 2050 a proposta envolve o investimento de US$30 bilhões adicionais. Pretende-se capturar mais de 1 bilhão de toneladas de carbono. O financiamento está sendo planejado com recursos não reembolsáveis do Novo Fundo Clima e de parte dos recursos recentemente captados pelo Tesouro Nacional, via títulos sustentáveis (Sustainable Bonds), além de outras fontes de recursos em planejamento.

A proposta certamente tem desafios enormes. Precisa envolver a EMBRAPA e muitos órgãos do governo, além de pesquisas para desenvolver tecnologias para que este restauro ecológico seja feito de maneira efetiva. É também necessário o envolvimento da iniciativa privada, bem como as unidades de pesquisas do MCTI e universidades. O processo deve combinar, além da questão da captura de carbono, a preservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. E também é necessário beneficiar as comunidades locais e integrar a proposta com os governos estaduais e municipais para que seja efetivamente implementada.

Evidentemente a proposta só faz sentido se conseguirmos eliminar o desmatamento, pois não faz sentido desmatar de um lado e restaurar de outro. Temos que acabar com o desmatamento antes de 2030. É importante também que o país atue diplomaticamente para que os demais países que possuem florestas tropicais (principalmente o Congo, Indonésia, Peru e Bolívia entre outros) façam iniciativas similares. Esta iniciativa, em conjunto com a extinção da exploração e queima de petróleo, pode ajudar o planeta a limitar o aumento médio de temperatura em 2 ou 3 graus Celsius. E também, evidentemente, o governo brasileiro tem que acabar com a ideia de explorar petróleo na foz do Amazonas e transformar a Petrobrás em uma companhia de energias limpas, focando na geração eólica e solar. É o único caminho para o Brasil e o planeta assegurar um futuro climático mais ou menos sustentável.

*Paulo Artaxo, Coordenador do Programa Mudanças Climáticas Fapesp, é professor do Instituto de Física da USP, membro do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. Desenvolveu sua carreira trabalhando com meio ambiente e mudanças climáticas globais. É membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS) e é vice-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP). É também vice-presidente da SBPC. Coordena o Centro de Estudos Amazonia Sustentável (CEAS) da USP. Recebeu vários prêmios como o  Almirante Álvaro Albert0, em 2016. É Doutor Honoris Causa da Universidade de Estocolmo, e em 2021 recebeu o prêmio CONFAP de Ciência e Tecnologia. Foi incluído na lista da Clarivate Analytics como pertencente aos top 1% dos pesquisadores mais citados no mundo em 2014, 2015, 2018, 2019 e 2020.

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