A relevância da Ciência na COP 28

Artigo: Paulo Artaxo*

a Ciência exige mudanças profundas no uso de energia no planeta e, inclusive, a eliminação do petróleo.

Com tanta política sendo jogada na COP 28, a pergunta sobre a relevância da Ciência na COP 28 é muito atual. Vimos o presidente da COP (Presidente de uma companhia petrolífera) falar que não existia ciência colocando a necessidade de eliminar combustíveis fósseis do planeta. Negacionismo científico a todo vapor para beneficiar as companhias de petróleo. Rapidamente, vários debates mostraram que SIM, a Ciência exige mudanças profundas no uso de energia no planeta e, inclusive, a eliminação do petróleo.

A Ciência está também presente na importante questão dos chamados “tipping points”, ou pontos de não retorno climático. Muitas das mudanças que já estamos fazendo no clima do planeta não tem volta. São irreversíveis. Mas onde exatamente estão os tipping points? E onde está o tipping point da Amazônia? Está quando atingirmos 40% do desmatamento da floresta? Ou será que está quanto atingirmos 3 graus de aumento de temperatura global? E quanto ao derretimento das geleiras da Groenlândia ou da Antártica? Este importante tema foi palco de várias apresentações na COP e a Ciência está fazendo progressos notáveis nesta área.

Outro ponto importante foi a discussão das bases científicas dos inventários de emissões que cada nação é obrigada a reportar à Convenção Climática. A diversidade de processos que levam a emissões de gases de efeito estufa e a necessidade de cada país de reportar valores que lhes beneficiem em termos de emissões fazem deste tema um problema enorme. Como quantificar as emissões de cada país e processo de maneira justa e a mais precisa possível? Comparar emissões de CO2, CH4, N2O entre si, e de cada país, é uma tarefa hercúlea e o IPCC ajuda desenhando softwares de suporte que podem ser usados pelos países para submeteram seus relatórios à UNFCC.

Hoje, na COP, os negociadores climáticos brasileiros fizeram uma reunião com toda a delegação brasileira. O Embaixador André Corrêa do Lago, junto com Ana Toni, Capobianco e outros que estão participando da negociação discutiram seus pontos para dar transparência às posições brasileiras na COP. Em particular, os negociadores foram questionados sobre emissões da agricultura, desmatamento, resíduos sólidos etc. Capobianco deu uma resposta brilhante: “Que o governo brasileiro, nas negociações, foque na redução de emissões do petróleo, já que é responsável por 83% das emissões. Os demais setores na estratégia política têm importância relativa menor, mas que tem também que ser levados em conta. Mas não se pode esquecer das emissões do petróleo.” Nota 10 para Capobianco.

Há mais de 50 anos, a Ciência alertou os governos e a sociedade dos riscos que a mudança climática teria para o nosso planeta. Agora, a Ciência busca métodos para sairmos da encrenca que estamos com a bagunça no clima. A Ciência nunca foi tão importante para ajudar a humanidade.

*Paulo Artaxo, Coordenador do Programa Mudanças Climáticas Fapesp, é professor do Instituto de Física da USP, membro do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. Desenvolveu sua carreira trabalhando com meio ambiente e mudanças climáticas globais. É membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS) e é vice-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP). É também vice-presidente da SBPC. Coordena o Centro de Estudos Amazonia Sustentável (CEAS) da USP. Recebeu vários prêmios como o  Almirante Álvaro Albert0, em 2016. É Doutor Honoris Causa da Universidade de Estocolmo, e em 2021 recebeu o prêmio CONFAP de Ciência e Tecnologia. Foi incluído na lista da Clarivate Analytics como pertencente aos top 1% dos pesquisadores mais citados no mundo em 2014, 2015, 2018, 2019 e 2020.

Post a Comment