Brasil ganha prêmio na COP 28: Fóssil do Dia

Artigo: Paulo Artaxo*

O ministro anunciou, aqui na COP, o plano de abrir um leilão para 603 novos blocos de produção de petróleo em 13 de dezembro, no dia seguinte do término da COP 28

O Brasil é destaque na COP 28 também pelos erros de seus dirigentes. A Climate Action Network (CAN), uma associação de 1300 ONGs de mais de 120 países, todo dia na COP dá um prêmio Fóssil do Dia e, ontem, 04 de dezembro, o premiado foi o Brasil. As declarações do Ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira endossadas pelo presidente Lula enfatizaram as contradições fortes de nosso país. O prêmio coloca que se o Brasil almeja ter liderança climática no planeta, não pode se juntar a um clube de produtores de petróleo (a OPEP+), confundido a produção de petróleo com liderança climática. O ministro anunciou, aqui na COP, o plano de abrir um leilão para 603 novos blocos de produção de petróleo em 13 de dezembro, no dia seguinte do término da COP28. É uma coincidência ou provocação? Para piorar a situação, o presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates declarou em seguida que a Petrobrás será das últimas empresas a parar de explorar petróleo.

A Agência Pública junto com o SEEG fez um levantamento das potenciais emissões da exploração de petróleo na Margem Equatorial e Foz do Amazonas, mostrando que estas emissões serão maiores do que as evitadas atingindo desmatamento zero na Amazônia.

O prêmio enfatiza que o mundo não quer ver na COP30, em Belém, petróleo sendo explorado na foz do Amazonas, e enfatiza que o Brasil deveria seguir o exemplo da Colômbia, que assinou o Tratado de não proliferação de combustíveis fósseis.

Fora a vergonha do “prêmio”, vimos a Ministra Sonia Guajajara participando da Mesa Ministerial de Alto Nível Sobre Transição Justa, que reuniu ministros e representantes de países para discutirem ações prioritárias para catalisar uma transição justa nas áreas energética, socioeconômica, laboral e outras dimensões para conter o aquecimento global até 2030.

Vimos também Al Gore lançar uma plataforma chamada Climate Trace (https://climatetrace.org/), que usa Inteligência Artificial e imagens de mais de 300 satélites para monitorar emissões de países, cidades, empresas e fábricas. Isso mostra um dinamismo importante no monitoramento de emissões de gases de efeito estufa, tarefa cada vez mais importante.

Por outro lado, a agenda de adaptação climática segue em discussão na COP28 com forte interesse dos países em desenvolvimento. O aumento da ocorrência e intensidade de eventos climáticos extremos colocou esta agenda como prioritária. A adaptação climática, por sua natureza, é muito local, envolvendo municipalidades como agentes fundamentais nesta agenda.

*Paulo Artaxo, Coordenador do Programa Mudanças Climáticas Fapesp, é professor do Instituto de Física da USP, membro do IPCC – Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU. Desenvolveu sua carreira trabalhando com meio ambiente e mudanças climáticas globais. É membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS) e é vice-presidente da Academia de Ciências do Estado de São Paulo (ACIESP). É também vice-presidente da SBPC. Coordena o Centro de Estudos Amazonia Sustentável (CEAS) da USP. Recebeu vários prêmios como o  Almirante Álvaro Albert0, em 2016. É Doutor Honoris Causa da Universidade de Estocolmo, e em 2021 recebeu o prêmio CONFAP de Ciência e Tecnologia. Foi incluído na lista da Clarivate Analytics como pertencente aos top 1% dos pesquisadores mais citados no mundo em 2014, 2015, 2018, 2019 e 2020.

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