Pesquisadores analisam as vulnerabilidades do Estado de São Paulo causadas pelas mudanças climáticas

Estudo aborda questões relacionadas à justiça climática, segurança hídrica, vulnerabilidade socioambiental e capacidade de adaptação, serviços ecossistêmicos, governança ambiental, riscos urbanos e resiliência

O Projeto Temático da Fapesp “Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista face à Variabilidade Climática”, realizado entre 2017 e 2022, lançou seu último produto antes do término do projeto: um livro online que leva o mesmo nome do projeto, contendo um diagnóstico e propostas em seis eixos temáticos: governança, território e planejamento, serviços ecossistêmicos, energia, clima e pequenas cidades.

Os capítulos estão organizados de acordo com as produções desses grupos temáticos: Governança de Saneamento Ambiental; Territorialidades, Espacialidades e Inovação na Governança Ambiental; As Pequenas Cidades em um Espaço Metropolizado; Evolução da Urbanização da Cidade de São Paulo e seu Impacto nos Padrões Atmosféricos da Região: Simulações Numéricas do Clima Presente e Futuro; A Governança das Questões Energéticas no Contexto das Macrometrópoles Paulistas; A Abordagem dos Serviços Ecossistêmicos na Dinâmica da Governança Ambiental; e, por último, um estudo exploratório, não representativo do projeto em si, mas fruto de pesquisa de doutorado, sobre o processo da aprendizagem social, desenvolvido no projeto temático.

A obra mostra que a Macrometrópole Paulista (MMP) caracteriza-se pela diversidade e complementaridade de funções econômicas, sociais e ambientais, exercidas em seu território, compreendendo 174 municípios, tendo a capital paulista como seu centro polarizador. Estrutura-se a partir de um conjunto de 5 regiões metropolitanas, 2 aglomerados urbanos e 1 microrregião – não institucionalizada – no Estado de São Paulo.

Associado ao Programa Mudanças Climáticas FAPESP e sediado no Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, o projeto é desenvolvido por docentes, pesquisadores e alunos de diversas unidades da Universidade de São Paulo, Universidade Federal do ABC, Instituto Tecnológico da Aeronáutica e da Universidade São Judas Tadeu. A equipe, interdisciplinar, é formada por sociólogos, arquitetos, especialistas em saúde pública, biólogos, climatólogos, oceanógrafos, sociólogos, historiadores, geocientistas e profissionais das engenharias.

Conforme apontado na introdução do livro, o maior desafio, desde o início do projeto, foi mobilizar pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento em um estudo integrado que fosse capaz de interpretar as diferentes questões que compõem as demandas locais e regionais da macrometrópole. A partir deste esforço sinérgico, foi possível explorar alternativas e caminhos para uma sustentabilidade justa.

De acordo com o coordenador da Pesquisa, Pedro Roberto Jacobi, Professor Titular Sênior no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), em alguns temas de indicadores apresentados no livro é analisada a macrometrópole como um todo. Em outros, quando se olha algum ponto mais específico, como no caso das cidades pequenas, o estudo é concentrado no Vale do Paraíba. Já no caso do estudo do território, depende da pesquisa de cada aluno com seu orientador. Para o clima, o estudo já é mais abrangente e, no caso da energia ficou mais concentrada, em parte na discussão da distribuição de energia e das alternativas que se colocam para avançar na importância da energia fotovoltaica, que é um dos caminhos para o futuro da produção energética.

“Se pensarmos no que a macrometrópole representa, é o coração da vida paulista, são 35 milhões de pessoas, tem toda a interligação das bacias hidrográfica. Por isso, esse estudo é tão fundamental”, analisa o Professor.

De acordo com o coordenador, outro aspecto que a pesquisa apresenta é o cuidado de olhar para os pequenos municípios, que têm importante potencial ecossistêmico. Estes territórios demandam apoio para a conservação de suas áreas protegidas e o desenvolvimento das estruturas econômicas locais. Deve-se levar em consideração a necessidade de reduzir as vulnerabilidades e melhor preparar as localidades para os eventos decorrentes das mudanças climáticas.

“Esse livro tem um perfil que eu chamo de intergeracional, pois todos os capítulos são construídos por Mestrandos, Doutorandos, junto com seus orientadores, pesquisadores sêniores, pós-doutores com seus respectivos coordenadores e o coordenador da equipe daquele tema. Então, esse foi um trabalho horizontal, que contou com a participação, o conjunto de todos os integrantes, considerando todos os entraves e barreiras que tivemos que ultrapassar em nome de um trabalho coletivo que acho que foi bem-sucedido”

Pedro Roberto Jacobi, Professor Titular Sênior no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP) e Coordenador do Projeto.

Perfil Intergeracional

Durante a pandemia, o trabalho foi afetado, principalmente, nas pesquisas de campo, que depois foram retomadas. Um exemplo é o da Professora Gina Rizpah Besenque, pesquisadora e pós-doutora do Programa de Ciências Ambientais do Instituto de Energia e Ambiente -PROCAM-USP, que trata da plataforma de resíduos sólidos, em um trabalho de diálogo com as Prefeituras, as responsáveis por alimentar essa plataforma com os dados utilizados nas pesquisas. De acordo com o Professor, mesmo após a finalização do projeto, essa é uma atividade, por exemplo, que a equipe pretende dar continuidade.

“Então, considerando a pandemia, nós fomos muito além do que pensávamos com esse projeto. Achei fantástica essa questão de você trabalhar com ex-orientandos que hoje são professores e orientadores e, eles com a geração deles também trabalhando com a gente nos artigos, nas pesquisas. Então, isso para mim é uma grande vitória. Eu comecei a concepção do projeto com quatro pessoas e terminamos com quase cem. Todos que foram se integrando à equipe ficaram até o fim. Nós criamos uma secretaria do projeto para que pudesse atender, inclusive, toda a parte burocrática de prestação de contas para a FAPESP, com todos os requisitos exigidos para cada uma das publicações e apresentações de relatórios”, informa Jacobi.

Wagner Costa Ribeiro, Professor Titular do Departamento de Geografia, Universidade de São Paulo - Prefácio

“Em termos de mudanças climáticas, a única certeza é a incerteza […] Uma nova sociedade deverá orientar-se por mais inclusão social e respeito a processos naturais que, desestabilizados pela ação das camadas dominantes, podem agravar riscos e situações de vulnerabilidade social, em especial entre os de renda mais baixa, vítimas recorrentes de alagamentos, enchentes, escorregamentos de vertentes, entre outros problemas, cujas causas são sociais.”

O Futuro do Projeto

Os trabalhos estão tendo vários desdobramentos, como é o caso do projeto de emergência energética. Dessa forma, esse temático se apresenta como uma âncora para vários outros projetos que contam, inclusive, com o auxílio da FAPESP. “É como uma continuidade de cada um dos temas. “Estamos delineando algumas propostas que possam dar continuidade com foco da visão do território urbano, mas talvez mais vinculado à questão da região costeira”, esclarece o Professor.

“Todo esse trabalho seria impossível sem os meus colaboradores, sem a sua estreita colaboração, sua visão cooperativa, colaborativa e da cocriação. Isso para mim é fundamental. E de abraçar de corpo e alma a interdisciplinaridade e, de certa forma também, a transdisciplinaridade pelos trabalhos que a gente também tem feito. Por outro lado, eu diria aos jovens pesquisadores que o papel deles é fundamental, independente das dificuldades e desafios, de serem cada vez mais convictos da importância que tem a ciência brasileira e uma instituição como a FAPESP que acredita realmente no cientista, no jovem cientista e isso significa, fundamentalmente, que nossa produção tem que estar cada vez mais incorporada, cada vez mais presente para esse diálogo com aqueles que, muitas vezes, têm sido promotores de visões, às vezes um tanto estereotipada. Portanto, a produção da ciência brasileira é fundamental e nós não podemos, em absoluto, deixar de fazer aquilo que nos é possível, principalmente para conhecer melhor o Brasil, para conhecer melhor, como no caso aqui da FAPESP, São Paulo, as complexidades do Estado e, ao mesmo tempo, com uma realidade que se coloca com muitas incertezas, de muitas respostas que precisam ser dadas e, para isso, uma visão inter e transdisciplinar se torna cada vez mais importante”. Pedro Roberto Jacobi

Projeto MACROAMB - FAPESP

Resultados

O projeto já rendeu 50 apresentações em eventos no Brasil e 29 internacionais, publicações em jornais científicos, sendo 35 no Brasil e 38 internacionais, 7 livros organizados, 70 capítulos de livros nacionais e 45 internacionais. Em uma das etapas do projeto, no lançamento do livro “Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – Desafios para o Planejamento e a Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista” foi realizada ainda uma série de podcasts para tratar exclusivamente dos temas relacionados aos ODS. O projeto conta também com vídeos, site e perfil nas redes sociais. De acordo com o Professor Jacobi, a ideia é fazer chegar a um maior número possível de pessoas o que está sendo realizado nas pesquisas que integram o trabalho. 

O projeto recebeu um aporte da FAPESP de aproximadamente R$ 500 mil, com exceção das bolsas vinculadas.

“Tivemos algumas bolsas da CAPES e do IAI, mas a FAPESP tem sido a agência fundamental. É inquestionável a importância da FAPESP, mas ela também tem seus limites em sua capacidade de fazer as coisas e, ao mesmo tempo, um rigor muito grande, esclarece Jacobi.

O livro está disponível para download, de forma gratuita, em: http://doi.org/10.55333/rima-978-65-84811-08-9

Para saber mais sobre o Projeto, acesse a Biblioteca Virtual da FAPESP: https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/97000/governanca-ambiental-da-macrometropole-paulista-face-a-variabilidade-climatica/ ou o site do Projeto: https://pesquisa.ufabc.edu.br/macroamb/sobre-o-projeto/

Site do Projeto: https://pesquisa.ufabc.edu.br/macroamb/sobre-o-projeto/

 

  Perfil no Facebook: @macroambfapesp (https://www.facebook.com/macroambfapesp/ )

 

 Perfil no Twiter: @macroamb_fapesp (https://twitter.com/macroamb_fapesp )

 

Canal no YouTube: MacroAmb – Governança ambiental da macrometrópole https://www.youtube.com/channel/UCXV-E1w76AjukSgWQ7FGkYA

Post a Comment