Programa FAPESP de Mudanças Climáticas realiza evento para demonstração de ferramentas desenvolvidas no Brasil para projeções climáticas

As Plataformas do INPE, AdaptaBrasil e MapBiomas são as mais recentes e apresentam fácil acesso aos dados climáticos

Por: Cristiane Bergamini

O Programa FAPESP de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais realizou, em 21 de setembro, o evento online “Indicadores e Cenários sobre os Impactos das Mudanças Climáticas no Brasil: Plataformas de Projeções Climáticas, AdaptaBrasil e MapBiomas” com o objetivo de mostrar e incentivar o público a testar algumas ferramentas desenvolvidas no Brasil que facilitam o acesso aos dados e permitem diversas formas de projeções climáticas.

“Novas ferramentas desenvolvidas recentemente facilitam em muito o acesso a dados climáticos, de mudança de uso do solo, e resultados de modelos do IPCC, que estão transformando a maneira de estudar os biomas brasileiros. Plataformas desenvolvidas no Brasil como o AdaptaBrasil tem a função de aproximar a ciência dos tomadores de decisões em relação às políticas públicas de adaptação às mudanças climáticas. O sistema MapBiomas permite acessar facilmente bilhões de imagens de satélite com resolução espacial menor que 10 metros sobre todo o Brasil. Também permitem termos o histórico do uso do solo ao longo dos últimos 30 anos. Os resultados dos modelos do IPCC também estão disponíveis facilmente, através da plataforma de projeções climáticas do INPE”, declarou o Diretor Científico da FAPESP, Professor Luiz Eugênio Mello, que participou da abertura do evento.

A disponibilização de novas plataformas de projeções climáticas está facilitando e transformando a ciência das mudanças climáticas no Brasil, declara o Professor e Coordenador do Programa Mudanças Climáticas FAPESP, Paulo Artaxo”, que foi o moderador do evento.

Esses recursos são utilizados, por exemplo, para detectar um histórico sobre como se deu o uso do solo no Brasil por um longo período de tempo, ou ainda acessar o enorme acervo de imagens de satélite com resolução espaciais diversas sobre todo o país. As novas ferramentas se diferenciam das já disponíveis pelo seu fácil acesso aos dados climáticos, permitindo que cidadãos não especializados em temas sobre mudanças climáticas possam acessar, realizar projeções e verificar, inclusive, como o clima poderá se apresentar no local em que vive, no futuro.

Acessando os dados das plataformas e realizando simulações e projeções, pode-se também detectar, por exemplo, qual o risco de impacto relacionado ao aumento de temperatura no ciclo hidrológico; a mudança no comportamento das estações chuvosas de determinada região e como isso pode impactar na saúde da população pela ocorrência de eventos climáticos extremos, como enchentes, alagamentos ou, em outros casos, a migração de vetores de doenças em decorrência aos incêndios e desmatamentos.

A primeira apresentação foi do Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Lincoln Alves, que mostrou, ao público, o passo a passo para acessar o portal “Projeções Climáticas no Brasil”, desenvolvido pelo INPE com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC-PNUD). “As fontes de informações têm que ser adequadas para seu propósito. É preciso coproduzir a informação com o usuário, considerar os valores e contexto de cada usuário. Essa é uma ferramenta de apoio aos tomadores de decisão do poder público e privado no planejamento prospectivo para identificar e priorizar, em diferentes horizontes de tempos potenciais, oportunidades e riscos físicos, regulatórios e na cadeia de produção, esclarece.

Esta Plataforma possui um guia para que o usuário possa acessar os dados e realizar projeções com mais facilidade. De acordo com o pesquisador, a ideia é que a plataforma passe por constantes atualizações para incorporar novas fontes de dados. Lincoln Alves, que é também autor líder do novo Atlas de Mudanças Climáticas, Grupo de Trabalho I (WGI), do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), fez uma breve simulação para demonstrar como realizar projeções e pesquisas e apresentou algumas funcionalidades do portal, como as diversas formas para se obter gráficos em diferentes modelos e formatos e alguns tipos de visualizações de mapas.

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Na segunda apresentação, o também pesquisador do INPE e um dos Coordenadores da Plataforma AdaptaBrasil, Jean Ometto, mostrou desde a metodologia para definição de risco de impactos, até de que forma se dá a construção dos indicadores que integram a plataforma, que está programada para ser lançada com todos os mais de cinco mil municípios do Brasil cadastrados ainda este ano.

“A plataforma recebe este nome porque é uma contribuição da ciência às medidas de adaptação, mas é também um sistema de informações e análises sobre o risco de impacto das mudanças climáticas”, informa Jean Ometto.

De acordo com o Pesquisador, a AdpataBrasil tem abrangência nacional e os dados são desagregados em nível subnacional, particularmente em municípios.  O público-alvo são os gestores e técnicos de governos locais, estaduais e nacional, bem como sociedade civil, setor privado, terceiro setor e instituições acadêmicas. “Nós temos uma rede de parcerias enorme para desenvolver esta plataforma e a construção dos indicadores passa por um processo extenso, exaustivo que é uma revisão exploratória, revisão de literatura muito intensa, consultas, questionários com especialistas, oficinas de caracterização e identificação de indicadores, atribuição de pesos e outras etapas até chegar no upload dos dados na plataforma, esclarece Jean.

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Na última apresentação, a Pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e Coordenadora Científica do MapBiomas, Julia Shimbo, iniciou explicando o que é a rede MapBiomas, seu propósito e com que objetivo foi criada: “O MapBiomas é um exemplo de uma ciência aberta, colaborativa e aplicada para a mitigação das mudanças climáticas. Possui mais de 20 instituições entre universidades, ONGs e startups de tecnologia que trabalham por biomas e temas relacionados ao mapeamento de cobertura e uso da terra no Brasil”, esclarece.

De acordo com a pesquisadora, a Rede foi criada pela necessidade de entender melhor a dinâmica do uso da terra, da conversão das áreas naturais e seus impactos associados. “As mudanças de uso da terra, principalmente relacionadas ao desmatamento, são a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa no Brasil, representando cerca de 44% das emissões no país. É preciso entender melhor a dinâmica do uso da terra, da conversão das áreas naturais e seus impactos associados. É com esse objetivo que foi criada a Rede MapBiomas”, informa Julia Shimbo.

Durante sua apresentação, a coordenadora científica do MapBiomas mostrou que esse sistema é capaz de gerar mapas anuais de cobertura e uso do solo do Brasil desde 1985 até os dias atuais. “Entre as informações obtidas, por exemplo, a plataforma mostra que o Brasil, apensar de ter 2% do território coberto com água, em 30 anos foram perdidos 3,1 milhões de hectares de superfície de água, o que corresponde a uma diminuição de 15,7%. Outro dado interessante e igualmente preocupante mostra que 20% do Brasil queimou pelo menos uma vez no Brasil nos últimos 36 anos, o que corresponde a cerca de 1,6 milhões/km2”, informa.

A rede, que está na   sexta coleção de mapas de uso e cobertura da terra cobrindo todos os biomas do Brasil, trouxe como uma das novidades, em agosto deste ano, o detalhamento de dados inéditos da mineração industrial e de garimpo, além do lançamento na versão beta com maiores detalhes da cobertura de água natural e antrópica nos últimos 36 anos mostrando, assim, os diversos impactos aos serviços ecossistêmicos e suas relações com as mudanças climáticas. São nove módulos que podem ser consultados por diversos recortes territoriais como biomas, estados, municípios e áreas protegidas, por exemplo.

Para compor todas essas informações, são utilizadas imagens de satélite, de Landsat com 30 metros de resolução, com processamento feito pixel a pixel (a plataforma já possui mais de 9.5 bilhões de pixels no Brasil), além do uso do Google Earth Engine que oferece imensa capacidade de processamento na nuvem e gera uma série histórica de mapas anuais de uso e cobertura da terra do Brasil. “Tudo isso sempre envolvendo a rede colaborativa de pesquisadores e especialistas nos biomas, temas, sensoriamento remoto e também ciências da computação”, completa Júlia.

Todos os dados estão disponíveis para serem baixados gratuitamente com infográficos, documentos de destaques de dados, mapas, estatísticas e os códigos que foram utilizados nas classificações.

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Sobre o Plano Estratégico 2020-2030

 

O Plano Estratégico é uma agenda científica para os próximos 10 anos voltada a entender os processos associados à mudança do clima e avaliar as suas causas e os seus impactos, fornecendo subsídios científicos para encontrar soluções e apoiar políticas públicas baseadas em evidências científicas e gerar conhecimento.

 

A elaboração dessa agenda contou com a participação de cientistas e especialistas em cada uma das áreas contempladas e estará em discussão nos eventos para identificar necessidades de adequações e sugestões para sua implementação.

 

Os temas que compõem o Plano são:

 

Política Energética e Socioeconomia, realizado em 1 de setembro e disponível aquI,
Mudanças de Uso de Solo e Agropecuária, realizado em 15 de setembro e disponível aqui,
Biodiversidade e Ecossistemas, realizando em 29 de setembro e disponível aqui,
Modelagem Climática e Ambiental (13 de outubro);
Urbanização e Mudanças Climáticas (27 de outubro);
Saúde e Mudanças Climáticas (10 de novembro);
Dimensões Sociais e Econômicas (24 de novembro).

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