Emergência climática: soluções existem, mas é preciso agir agora

Emissões globais precisam cair 43% até 2030 para evitar aumento acima de 1,5 ºC, segundo o IPCC. Governo brasileiro divulgou meta menos ambiciosa do que a anterior

Texto Jornal da USP: Herton Escobar

Ainda há tempo de evitar o pior das mudanças climáticas, mas esse tempo está se esgotando. É preciso agir já.” Se você acha que já ouviu essa mensagem antes — muitas vezes até, provavelmente —, sim, você está certo. Ela vem sendo repetida há anos, exaustivamente, pelos cientistas, e o problema é exatamente esse: o recado não muda porque a situação não muda (só piora) e o tempo disponível para agir está cada vez mais curto.

Esse é o principal recado, mais uma vez, do sexto Relatório de Análise (AR6) do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), que teve seu terceiro e último fascículo publicado no início desta semana, 4 de abril. Os dois primeiros blocos (divulgados em agosto de 2021 e fevereiro de 2022) trataram das evidências científicas do aquecimento global, das suas consequências para o clima do planeta e para a espécie humana, e da necessidade urgente de preparação e adaptação a essas mudanças. Já este terceiro fascículo descreve o que é necessário fazer para impedir que a situação piore ainda mais daqui para frente — as chamadas “medidas de mitigação”. E atenção: o cenário não é nada bom.

 

“Mais do que qualquer outro relatório lançado (até agora), este aponta a necessidade da urgência de redução de emissões”, disse o pesquisador Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP, em um webinário sobre o tema, organizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “O relatório fala que nós precisamos agir já”, completou ele, ressaltando que as mudanças climáticas não são mais uma preocupação do futuro, mas “uma questão do presente”.

“Para isso vamos ter que construir uma nova sociedade, muito diferente da que temos hoje; muito mais sustentável e com muito mais igualdade econômica e social”, disse Artaxo — um dos 21 cientistas brasileiros que participaram diretamente da confecção do relatório (AR6 completo), produzido por um exército científico de quase 800 autores e revisores internacionais, ao longo de sete anos, com base em dezenas de milhares de estudos publicados sobre o tema na literatura científica.

“É agora ou nunca, se quisermos limitar o aquecimento global a 1,5°C”, disse Jim Skea, especialista em clima e tecnologia do Imperial College London, que foi um dos coordenadores do Grupo de Trabalho 3 do IPCC (responsável por este último fascículo do relatório). “Sem reduções imediatas e profundas de emissões em todos os setores, será impossível.”

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Sobre o Plano Estratégico 2020-2030

 

O Plano Estratégico é uma agenda científica para os próximos 10 anos voltada a entender os processos associados à mudança do clima e avaliar as suas causas e os seus impactos, fornecendo subsídios científicos para encontrar soluções e apoiar políticas públicas baseadas em evidências científicas e gerar conhecimento.

 

A elaboração dessa agenda contou com a participação de cientistas e especialistas em cada uma das áreas contempladas e estará em discussão nos eventos para identificar necessidades de adequações e sugestões para sua implementação.

 

Os temas que compõem o Plano são:

 

Política Energética e Socioeconomia, realizado em 1 de setembro e disponível aquI,
Mudanças de Uso de Solo e Agropecuária, realizado em 15 de setembro e disponível aqui,
Biodiversidade e Ecossistemas, realizando em 29 de setembro e disponível aqui,
Modelagem Climática e Ambiental (13 de outubro);
Urbanização e Mudanças Climáticas (27 de outubro);
Saúde e Mudanças Climáticas (10 de novembro);
Dimensões Sociais e Econômicas (24 de novembro).

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