Projetos da Fapesp são contemplados em chamada mundial liderada pelo Canadá
Colaboração internacional teve 120 projetos e 32 selecionados sobre adaptação e mitigação às mudanças climáticas
Aconteceu, na última terça-feira, 04/06, o anúncio dos vencedores da chamada “Iniciativa de Colaboração Internacional para Pesquisa em Adaptação e Mitigação das Mudanças Climáticas”, uma cooperação entre a Fapesp, a New Frontiers in Research Fund – Canadá (NFRF) e outras instituições mundiais de apoio à Pesquisa, como da Alemanha e do Reino Unido, entre outras.
A Chamada, lançada ainda em 2023, selecionou 32 projetos interdisciplinares envolvendo 424 pesquisadores de 45 países e um montante de 60 milhões de dólares. Com a duração de três anos, os projetos têm como objetivo trazer soluções e implementar estratégias de adaptação e mitigação às mudanças climáticas para grupos vulneráveis. Entre os projetos selecionados, quatro são da Fapesp.
“Foi uma seleção muito rigorosa e bem difícil, pois recebemos em torno de 120 projetos. Foram duas semanas intensas em que os analistas ranquearam as propostas de acordo com as exigências da chamada, como ter o envolvimento obrigatório do Canadá, representação de pelo menos três países entre as afiliações dos pesquisadores responsáveis; ser transdisciplinar e o que chamamos de trans- setorial, ou seja, envolver os setores acadêmico, de pesquisa, econômico (empresas), social (organizações governamentais e não governamentais), e ainda atender, no mínimo, três dos oito riscos representativos elencados no relatório da sexta avaliação do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)”, esclarece a Professora Patrícia Morellato, membro do Comitê Mudanças Climáticas Fapesp e uma das representantes da FAPESP no Comitê gestor da chamada.
Um dos pontos cruciais das propostas é responder as necessidades das pessoas mais afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas, como os territórios indígenas, comunidades ou grupo vulneráveis em decorrência às questões geográficas, econômicas e/ou sociais. De acordo com a Professora Patrícia um ponto extremamente importante que os projetos deveriam atender é o de estabelecer parcerias com essas comunidades na co-criação, implementação e apropriação da investigação e dos resultados, ou seja, ter as comunidades vulneráveis como participantes, parte integrante do projeto e não apenas um meio de pesquisa. “É ouvir as comunidades, conhecer e priorizar suas necessidades. Além disso, de acordo com o escopo da chamada, os projetos precisam desenvolver estratégias relacionadas a políticas, comunicação e parcerias com a comunidade para incentivar a aceitação, o apoio e as mudanças comportamentais necessárias para a implementação”.
Além de ter as comunidades vulneráveis como partes da equipe, os projetos são incentivados a apoiar uma nova formação de pesquisadores. “Por isso, é tão importante ter uma equipe multidisciplinar, outra exigência da chamada, ou seja, pesquisadores que estabeleçam um contato bem direto com as comunidades e que tenham a habilidade para lidar com as mais diversas situações, pois estamos tratando de pessoas em situações de risco, vulneráveis aos perigos causados pelas mudanças climáticas”, completa Morellato.
A chamada é uma é uma colaboração entre financiadores de pesquisa do Brasil, Canadá, Alemanha, Noruega, África do Sul, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos e tem como objetivo estimular a experiência das pesquisas internacionais para o enfrentamento dos desafios globais causados pelas mudanças climáticas.
Conheça os projetos brasileiros selecionados:
- Transições Agroecológicas para Adaptação e Mitigação Climática com o financiamento de US$ 1.414.000
- Aumentar a preparação local para as marés dos Sargaços na Amazónia e nos recifes mesoamericanos através de uma monitorização melhorada e de economias azuis. US$ 2.436.698
- Construindo resiliência: Como a agricultura de conservação pode ajudar as pequenas agricultoras a se adaptarem às mudanças climáticas US$ 718.125
- Enfrentando o ‘Colonialismo Verde’ – Ações e Soluções lideradas pelas Comunidades Indígenas e Locais para Segurança Alimentar, Água e Terra US$ 1.500.000
A importância dessa chamada para o Brasil
Em entrevista, a Professora Patrícia elenca alguns pontos fundamentais que uma parceria inovadora como essa traz para a pesquisa e para os pesquisadores brasileiros:
1. Como resolver os problemas de adaptação e mitigação
Essa é uma primeira importância: uma pesquisa que traz a gente a pensar usando ciência em como resolver os problemas de mitigação e adaptação as mudanças do clima.
Essa iniciativa de colaboração internacional para pesquisa em adaptação e mitigação das mudanças climáticas é importante para a ciência brasileira sob vários aspectos. Primeiro porque esse é um fundo que é até chamado de Fronteiras do Canadá e toca numa questão que é importante o Brasil lidar: a adaptação e a mitigação. Então, se pensarmos que essa é uma chamada que foi há dois anos e hoje estamos vivendo uma situação como essa do Rio Grande do Sul com chuvas enormes, tudo alagado e que coloca as pessoas a pensar em como vão resolver esses problemas que estão relacionados a chuvas extremas, nos leva a pensar em como vamos tentar mitigar os efeitos ou adaptar. Essas são as soluções que estão sendo desenhadas. Então, uma chamada como essa prepara a gente, o nosso pensar e o nosso agir para esse tipo de problema, tanto que foi liderada por esse fundo de novas fronteiras em pesquisa do Canadá e traz como meta principal ter que trabalhar com alguns dos oito riscos do IPCC, ou seja, para escrever a proposta você era preciso escolher três dentre os oito riscos principais elencados pelo último relatório do IPCC. Então, isso faz com que a pesquisa que seja direcionada a tentar trazer essas soluções. Essa é uma primeira importância: uma pesquisa que traz a gente a pensar usando ciência em como resolver os problemas de mitigação e adaptação às mudanças do clima. Ele também faz com que você trabalhe dentro dos riscos principais elencados pelo IPCC.
- Riscos para os sistemas socioecológicos costeiros baixos
- Riscos para os ecossistemas terrestres e oceânicos
- Riscos associados a infraestruturas físicas, redes e serviços críticos
- Riscos para os padrões de vida
- Riscos para a saúde humana
- Riscos para a segurança alimentar
- Riscos para a segurança hídrica
- Riscos para a paz e para a mobilidade humana
Então, são riscos muito importantes em que os pesquisadores vão ter que trabalhar com pelo menos três deles.
2. Integração e aprendizados com a comunidade internacional
Outro motivo que é importante para a gente porque ela faz com que a comunidade internacional se integre para resolver os problemas. Os problemas de adaptação e mitigação de mudança climática são globais e pode ser que a gente consiga trazer soluções melhores se a gente traz mais cabeças pensando sobre todo esse problema. Nesse caso, dessa chamada, você tem que ter no mínimo três parceiros de países diferentes que são financiados por diferentes agências de fomento. Então, com isso ocorre uma integração importante e vai fazer também com que o pesquisador brasileiro vá aprender a trabalhar mais e melhor internacionalmente e interativamente.
3- As comunidades vulneráveis são parte da equipe do projeto
Outra questão importante dessa chamada que vai favorecer a comunidade científica brasileira é o fato que essa chamada faz com que tenha que trabalhar com comunidades vulneráveis e elas têm que ser co-participantes da escrita da proposta, ou seja, elas não podem ser notificadas que é voltada provavelmente a mitigar ou adaptar algum problema ou alguma situação que essas populações vulneráveis estão vivendo, mas elas têm que ser co-produtoras dessa ciência que vai ser feita e essa é uma forma muito atual, moderna e avançada que está na fronteira de como produzir ciência, que o cientista não só olhe para o problema, mas que ele também integre o ponto de vista e as metas contidas no que aquela população vulnerável deseja. Então, essa é uma outra forma interessante de fazer ciência que a gente vai aprender com essa chamada e que vai poder reverberar para outras chamadas da Fapesp e de outras fundações, e de outas ações que a gente queira fazer.
4- Transdisciplinaridade
Essa chamada tinha que trazer também a transdisciplinaridade, ou seja, tinha que ter diferentes áreas de conhecimento representadas pelos pesquisadores principais e associados nesse projeto. Então, não poderia, por exemplo, ser um projeto em que todos os pesquisadores principais e associados fossem biólogos. Tem que ter o biólogo, tem que ter a pessoa da ciência da computação para tratar os dados que vamos manejar, tem que ter uma pessoa de ciências sociais, ciências humanas para poder interagir com as populações vulneráveis, podemos ter o economista para entender como vamos trazer soluções sustentáveis para aquela região e outros participantes que trabalham, por exemplo, na interface com políticas públicas, secretarias de governo, organizações governamentais. Então, é uma construção de ciência mais complexa gerada a partir de resultados que a gente sabe que são riscos que sabemos que estamos correndo e tendo que entender como resolver, mas que faz com que o cientista trabalhe diretamente com as populações locais, tradicionais, indígenas, vulneráveis e que vai trazer soluções para situações que a gente deve vir ou já está vivenciando.
Patrícia Morellato: membro do Comitê Mudanças Climáticas Fapesp e uma das representantes da FAPESP no Comitê gestor da chamada.
Sobre o NFRF
A instituição liderada pelo Canadá que comandou a chamada foi a New Frontiers in Research Fund (NFRF) fundada em 2018 e já com um histórico de apoio a pesquisas mundiais e interdisciplinares de alto risco e transformadoras. O seu objetivo é o de aumentar a competitividade e a experiência do Canadá na economia global baseada em ciência.
Conheça aqui os 32 projetos selecionados, parceiros e resumo. Acesse aqui!
Assista o anúncio das propostas vencedoras realizado em 03 de junho
Divulgação dos resultados. Veja aqui!